coronavírus

Em live, infectologistas avaliam e tiram dúvidas sobre pandemia na cidade

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Foto: Guilherme Borges (Prefeitura de Santa Maria)

Responsabilidade, diagnóstico, assistência e prevenção. Palavras que resumem o discurso feito pelos médicos infectologistas Thiego Teixeira Cavalheiro e Jane Costa em live transmitida no perfil oficial da prefeitura. Ao lado do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB), os dois pautaram a situação atual da pandemia em Santa Maria. Thiego apresentou uma série de slides com o panorama e explicações acerca da Covid-19, enquanto Jane fez uma avaliação e um apelo do que pode ser o pior momento epidemiológico na cidade desde março do ano passado.

Entre os pontos destacados ao longo da transmissão, Thiego relatou a experiência própria na linha de frente: 

- Se você precisar de atendimento, a rede de hospitais foi montada para isso. Mas ela está hipercarregada, hiperssaturada. Nós estamos dentro do vulcão e medindo a temperatura. Nós estamos sentindo que a doença mudou o seu rumo e que a velocidade de crescimento é muito grande.

Confira, abaixo, trechos da fala de ambos, que durou cerca de 45 minutos:

THIEGO CAVALHEIRO

Tripé base para combate ao coronavírus: diagnóstico, assistência e prevenção
São fundamentais para a gestão de uma crise como a pandemia. O diagnóstico apresenta um monitoramento, um dado epidemiológico da doença. A assistência pode reduzir a mortalidade da doença e é pautada, especialmente, em um bom atendimento médico a nível ambulatorial e, principalmente, hospitalar. E a prevenção, que é um dos caminhos para reduzir a velocidade do crescimento do número de casos. Tendo prevenção, é possível ter efetividade na redução de casos. Tem momentos na pandemia que são mais críticos. E estamos vivendo um momento muito crítico do ponto de vista da sobrecarga da assistência. Nós estamos com nosso sistema de diagnóstico, de monitoramento, dando alerta. Nós nos preparamos para isso, mas temos recursos finitos. E pra isso, precisamos muito da ajuda de todos. Vai ser essencial a atitude responsável agora.

Sistema de entrada ambulatorial
Temos os locais que funcionam como "porta de entrada" para tratamento da Covid-19. O principal, no município, é a Unidade de Pronto-Atendimento (Upa), em conjunto com o Pronto Atendimento do Patronato (PA) e com o Centro Coleta de Referência, que é o local onde se faz diagnóstico. Além disso, há a unidade Ruben Noal, no Bairro Tancredo Neves e também o Hospital Geral do Exército. Já no setor privado, a referência é o Hospital Alcides Brum. Com o andamento da pandemia, houve uma superatividade por lá e um entendimento de que o Hospital da Unimed servisse como referência também. Além disso, há também o apoio do Hospital da Brigada Militar. São esses locais que vocês, se sentirem sintomas, devem procurar atendimento. O isolamento de pessoas diagnosticadas ou que estão sintomáticas é a atitude de maior impacto em fazer prevenção da doença. Nós precisamos urgentemente que haja uma diminuição do número de casos.

Mudanças de comportamento do vírus
O vírus se modificar, para nós, infectologistas, não é novidade e nunca será. A gente conhece as características desse microorganismo e ele vai fazendo pequenas modificações na sua estrutura. Essa mudança causa vírus diferentes em todo o mundo. Nós somos um país com limitações financeiras para poder fazer uma avaliação completa. Então temos que lutar com a nossa cabeça, de forma concreta, para que a gente consiga ter um melhor resultado. Nós tivemos um momento do "antes", em que a doença tinha uma impacto de mortalidade maior em idosos. Agora, fazem aproximadamente 14 dias em que vemos um aumento do impacto da doença em pacientes jovens, principalmente entre 35 a 50 anos. Eles estão piorando rápido, precisando de assistência hospitalar e muitos com necessidade de UTI.

Outras doenças
É preciso entender que nós estamos vivendo uma crise de saúde. E essa crise não é somente de Covid-19. Nós estamos com o sistema de saúde saturado para todas as doenças. Estamos tendo que mudar paciente de hospital mesmo durante a madrugada para termos retaguarda para atender infartos, AVCs, câncer. Precisamos nos organizar para que haja uma redução de dano global não só da Covid.

Superlotação de hospitais
Não é um atributo somente nosso. Não é só a nossa cidade que está assim. A gente conversa com pessoal de fora do país, de dentro de situações que tem alguma similaridade com o nosso município, e a conversa é a mesma. Temos cidades muito próximas que estão com o atendimento caótico, e respinga para nós porque somos referências. Não tem como evitar isso. Nós lutamos para isso, para poder atender não só as pessoas que vêm de um determinado local, mas para atender que precisa. É necessário que haja um senso de coletividade para que as pessoas deixem de cobrar e passem a fazer prevenção. Então assuma a responsabilidade porque você vai precisar tomar um atitude neste momento.

Comportamento equilibrado
Precisamos ter equilíbrio das ações. Nem tanto para o desespero, nem tão pouco para o menosprezo. Não deixe de agir com o coração, mas não percam a razão agora. Andem juntos num equilíbrio de atitude porque vai ser necessário, nós precisamos disso. Pense no coletivo, na tua proteção, nas pessoas que estão próximas, porque a doença não é só mais dos idosos, hipertensos, diabéticos. Nós estamos vendo colegas em estado grave. Nosso dever é atender a todos e não vamos fugir da responsabilidade nunca. 

Dicas reforçadas:

  • Se você tiver sintomas de Covid-19, procure atendimento e mantenha o distanciamento
  • Evitem viagens desnecessárias
  • Evite ir ao litoral e, se for, volte com cuidados redobrados, sem se expor a pessoas de risco
  • Evite reuniões em ambientes fechados
  • Preste atenção porque a transmissão está ocorrendo dentro da sua própria casa
  • Higienize as mãos e utilize máscara, principalmente em locais fechados

JANE COSTA

Terceira onda
Nós tivemos uma primeira onda pequena, uma segunda que veio um pouco maior, depois um recuo e, agora, uma onda como um tsunami. Assim como no mar, ele recua e depois sobe muito. E isso não é algo que está ocorrendo somente em Santa Maria. Está acontecendo em vários lugares e nós temos que nos preparar para isso.

Aumento de casos e limite da capacidade hospitalar
É uma consequência de a população ter cansado. Temos observado uma série de pessoas se aglomerando, fazendo festas. A gente entende que todos estão cansados, só que é necessário que vocês entendam que o sistema de saúde é um bem finito. Nós não temos equipes. Podem até dizer "abram mais leitos de UTI, o prefeito consegue". Não basta abrir leitos, porque não temos mais profissionais. Não adianta nada comprar respiradores, pois precisamos de quem opere ele. Além disso, temos que pensar que as pessoas têm acidentes de carro, enfartam, têm AVC, os diabéticos descompensam, as pessoas com câncer precisam ter o seu tratamento, e nós estamos sufocados com uma única doença. Vou chamar, de novo, a responsabilidade de todos. A comunidade é responsável pelo destino dela mesma. Nós, enquanto profissionais da saúde, não vamos fugir da raia nunca. É nosso dever, nós prometemos e juramos isso. No entanto, nós somos finitos e vamos atender aqueles que conseguirmos.

Diagnóstico, isolamento e prevenção
Se você tem qualquer sintoma respiratório, não perca tempo, faça o exame, use máscara dentro de casa, se afaste, não beije seus familiares. Esse é um vírus de transmissão por gotícula respiratória a um metro e meio. Isso é autopreservação e preservação daquelas pessoas que a gente quer bem. Se você viajou, se "autoquarentene". Isso é recomendado no mundo inteiro. As pessoas que viajam ficam de quarentena de 5 a 7 dias porque a maioria das que se infectaram ficam sintomáticas nesse período. Isso é gostar de nós e das outras pessoas, além de protegê-las.

Consciência coletiva
Não queremos o caos, não queremos nada fechado, queremos que as pessoas trabalhem e voltem para as suas vidas. Mas, para isso, temos que evitar a transmissão do vírus. E para evitá-la, é preciso distanciamento social, uso de máscara e higienização de mãos. Simples assim. Vamos nos amar e amar ao próximo, porque quem eu amo, eu protejo.

Além da apresentação do panorama, ambos os infectologistas responderam algumas perguntas feitas pelo público:

  • Quem já foi vacinado e mesmo assim pegou o vírus, porque isso acontece? Quanto tempo depois da vacina as pessoas ficam imunizadas?
    Jane
    - Nós não temos garantias de que quem já teve a doença fique imune por tempo indefinido. Existem reinfecções, possivelmente por novas cepas, assim como a gente se reinfecta com o H1N1, em que temos que fazer vacina todos os anos. Com relação às vacinas que temos para Covid-19, são vários modelos. Para que a pessoa não pegue o vírus, a imunidade da Coronavac tem em torno de 50%, só que o ganho secundário é na segunda fase, que é o risco da pessoa morrer. É isso que a gente quer: que mesmo que possa pegar a doença, a pessoa não morra dela. E nisso as duas vacinas disponíveis são bem similares. A vacina de Oxford, em um primeiro momento, é mais eficaz do que a Coronavac para diminuir o risco de infecção. Mas ao mesmo tempo ela tem mais reações e por isso não se está optando por aplicá-la em idosos. Por isso, de qualquer maneira, se você já teve a doença, continue se cuidando. Fez a vacina? Continue se cuidando da mesma forma. Ainda é uma situação muito nova e há uma série de respostas que nós não temos, e como é uma doença viral, ela pode ter mutações sim. 
  • Mesmo assintomática, vocês aconselham que uma pessoa faça a testagem?
    Thiego
    - Depende muito do grau de exposição que você tem, porque a gente sabe que a maior transmissibilidade acontece no paciente que é sintomático. Se você teve exposição a um paciente que sabe que deu positivo, pode fazer a testagem ou ficar em quarentena por 7 a 10 dias para observar sua situação clínica. Eu, por exemplo, que tenho contato com muitos pacientes, fiz testagem duas vezes desde fevereiro quando estive com sintomas, mas que não foram confirmadas. Não tive a doença ainda e não sei se vou ter. Mas a testagem não serve como atestado de liberdade, pois pacientes assintomáticos podem ter testes falso-negativos. Então, tenha prudência. 
  • As variantes de coronavírus já foram notificadas em Santa Maria? 
    Jane
    - Com relação a isso, o que se pode dizer é que temos algumas amostras que foram colhidas, mas ainda não temos o retorno, porque não é feito aqui. É encaminhado via Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e ainda não tivemos o resultado.
  • Quais são os perfis dos pacientes, como grupos de risco?
    Thiego
    - Ele tem sido dinâmico. A gente conhecia um perfil antes, e agora estamos conhecendo outro. Acreditamos que essa variabilidade vai seguir acontecendo. No momento, temos enfatizada a incidência em pacientes mais jovens. Não sabemos ainda se por conta de uma mutação no vírus ou por mudança de comportamento por idas ao litoral ou aglomerações. Além disso, a doença mudou no quesito e evolução também. Os pacientes estão piorando de uma forma muito mais precoce. Isso acontecia somente no 7º ao 10º dia, e hoje há pacientes piorando no 4º ou 5º dia, além de outros que pioram somente ao final, depois de 15 dias, como se fosse fosse uma apresentação mais grave, que se estabilizasse e depois piorasse de novo. 
  • Sobre tratamento preventivo: o que há de científico?
    Thiego
    - Já se testaram diversos medicamentos. Há estudos em andamento, mas até o momento não se tem nada concreto de que, se usarmos um medicamento em uma pessoa saudável, ela vá evitar de ter a doença. Eu falo por mim: não uso remédio algum, mesmo atendendo todos os dias pacientes com Covid. Quando há o diagnóstico, não existe receita de bolo. Não tem um remédio padrão para todo mundo. Pode-se discutir, no 3º ou 5º dia, se uso hidroxicloroquina, azitromicina ou ivermectina. É algo em andamento e está sendo revisado periodicamente. Em alguns casos se usa, mas só o que a gente sabe é que não se deve usar corticoide. Não faça automedicação, não use prednisona ou dexametasona nos primeiros sete dias porque piora a doença. Consulte, faça uma avaliação, conte a sua história a um profissional, deixe ele te examinar e que ele defina da melhor forma possível. Preste atenção em sinais de piora. Se você estiver doente e começar a sentir falta de ar, dor no peito, tontura, síncope, desmaio, febre persistente, isso são sinais de que o paciente precisa ser reavaliado. Eu não posso dizer que existe um medicamento milagroso que salva tudo, porque a gente ainda não enxerga isso. Ao mesmo tempo, pode haver benefício em alguns situações sim, mas discuta com o seu médico para saber em que momento da doença você está. Uma vez sendo prescrito, mal não faz à maioria, seja qual for, mas não faça automedicação.

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